Desde que conheci o urban sketching pela Karina
Kuschnir há alguns anos, fiquei apaixonada. Passei a acompanhar blogs e
contas no Instagram e Youtube sobre o assunto, li sobre os diferentes tipos de
materiais, memorizei várias dicas... Investi em materiais artísticos
relativamente caros e de vez em quando tentava desenhar, mas sempre ficava
insegura e logo abandonava a caderneta incompleta. Por mais que eu quisesse
muito, o desenho não virava um hábito.
O que me incomodava era não compreender bem noções de perspectiva e
movimento. E por mais que eu julgasse ter simplificado e selecionado ao máximo
aquilo que queria colocar no papel, tudo continuava muito complexo e o
resultado final era muito frustrante. Decidi então fazer um curso de
esboço e aquarela com ênfase em arquitetura e a experiência foi enriquecedora,
para além do aprendizado das técnicas de desenho. A estrutura do curso
compreendia 6 aulas de 6 horas cada em pontos diferentes da cidade. Nas aulas
descobríamos técnicas básicas de observação e interpretação da perspectiva,
percebíamos onde estavam as luzes e sombras, tão essenciais para criar a
sensação de profundidade e sugerir os detalhes, a como conduzir a água na
aquarela (a gota sempre vai para baixo!), quando adicionar mais água ou
pigmento… Como os espaços urbanos são habitados, aprendemos também a desenhar
figuras humanas de forma simplificada, sugerindo movimento. E a cada aula,
aplicávamos as técnicas aprendidas para desenhar um edifício.
A riqueza do curso estava justamente no fato de ficarmos 6 horas
observando um mesmo local, o que acabava transformando a cidade bem ali,
debaixo dos nossos próprios olhos. Coisas antes insignificantes se tornaram imperiosas: quantas
janelas tem o prédio? Essa árvore sempre esteve aí? Não dá pra deixar o detalhe
desse parapeito de fora! E essa sombra, tão importante! Fazer isso em
grupo era melhor ainda, já que trocamos impressões sobre aquilo que
observávamos e sobre os esboços, além de um estimular o outro quando só
sabíamos ver defeitos em nossos próprios desenhos. Desenhar na rua também
afetava os transeuntes, aqueles que, em um primeiro momento, só estavam de
passagem. Tinha gente que parava e observava quietinho. Outros
perguntavam o que estávamos fazendo, se era aula ou se poderia sentar e
desenhar também. Havia ainda quem desviasse do caminho para não atrapalhar
nossa visão do edifício, como se estivéssemos tirando uma fotografia, e se
desculpavam cerimoniosos por "atrapalhar". Mas os que mais me
encantavam eram aqueles que paravam e olhavam na mesma direção que nós, os
desenhadores¹, tentando entender porque um grupo de pessoas observava e
desenhava esse ou aquele prédio, como se se perguntassem intrigados (as
sobrancelhas não deixam mentir) o que ele teria de tão especial assim.
No curso recebi um kit composto por dois blocos de papel (um para
desenho e outro para aquarela), um godê, um pincel de cerdas naturais e 3
pastilhas de aquarela nas cores primárias: azul (ultramarine deep), amarelo
(permanent yellow deep) e vermelho (permanent red light), dentro de uma ecobag.
Como eu só conhecia pincéis sintéticos, gostei muito de experimentar um com
cerdas naturais, já que ele retém mais água e interaje com os pigmentos de
forma muito diferente. Com relação às tintas, da marca Sakura Koi, fiquei
bastante decepcionada. Não saía nenhum tom bonito de verde, nem de marrom, nem
de roxo. As cores ficavam sempre muito lamacentas e para trazer mais vida aos
esboços comecei a usar também tintas da Pentel. Mas me mantive fiel a proposta
do curso e só usei as primárias, pois queria aprender a produzir a maior
quantidade possível de cores com uma paleta mínima. No fim acabei usando as 6
cores juntas e descobri que, ao misturar as tintas de marcas diferentes, eu
produzia uma textura muito bonita quando a pintura estivesse seca. Ou seja, ao
tentar solucionar um problema, descobri coisas legais.
Depois de concluir o curso, já com saudade, ainda acho difícil
entender certas linhas na perspectiva, mas o processo deixou de ser tão
cabeludo. Desenhar pessoas em movimento, por outro lado, continua desafiador.
Como o curso era focado em arquitetura, as técnicas apresentadas para retratar
as figuras humanas eram muito esquemáticas. Meu próximo passo é aprender a
desenhar pessoas com mais detalhes, já que como boa antropóloga,
elas me interessam mais. E praticar. Para descobrir e exercitar novas técnicas
e estratégias, adquiri dois livros incríveis sobre perspectiva e figura humana,
que estão me ajudando. Um dia, quem sabe, escrevo sobre eles.
¹Descobri recentemente que na Portugal do século XVIII eram chamados
de desenhadores aqueles que desenvolviam a habilidade do
desenho através de uma formação instrumental, já que a Academia de Belas Artes
portuguesa só foi criada em 1836.
(Edit: essa postagem foi republicada depois de acidentalmente ser deletada)
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